O que é acessibilidade comunicacional para pessoas surdas em eventos?
- Gabriel Isaac

- 23 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de ago.

Quando falamos em acessibilidade, muitas pessoas ainda pensam apenas em rampas, elevadores ou legendas automáticas. Mas para o público surdo, a acessibilidade precisa ser pensada a partir da comunicação.
Neste texto, vamos explicar o que é acessibilidade comunicacional, por que ela é essencial em eventos, quais são os erros mais comuns e como garantir que pessoas surdas participem de forma plena, respeitosa e representativa.
O que é acessibilidade comunicacional em eventos?
A acessibilidade comunicacional garante que todas as pessoas possam compreender e interagir com as informações disponíveis, respeitando suas formas de comunicação. No caso das pessoas surdas, isso envolve muito mais do que simplesmente colocar um intérprete no palco.
É necessário considerar a Libras como uma língua própria, respeitar a cultura surda, entender a visualidade como parte da experiência e construir espaços onde a comunicação aconteça com naturalidade e equidade.
Ela começa na forma como o evento é planejado, na escolha dos profissionais que vão interpretar, nos materiais que serão divulgados e na forma como o público é acolhido.
A acessibilidade comunicacional é um direito
A legislação brasileira reconhece a importância da Libras e da acessibilidade para pessoas surdas em diversas áreas da vida, incluindo cultura, lazer e informação. Veja algumas leis que garantem esse direito:
Lei 10.436 de 2002 reconhece a Libras como meio legal de comunicação;
Decreto 5.626 de 2005 determina o uso da Libras em espaços públicos e culturais;
Lei Brasileira de Inclusão (13.146 de 2015) garante a acessibilidade comunicacional como parte da inclusão social;
Constituição Federal assegura igualdade, acesso ao lazer, cultura e comunicação.
Ou seja, garantir acessibilidade comunicacional para pessoas surdas não é um extra. É um dever legal e social.
O que ainda falta em muitos eventos?
Mesmo com leis e informações disponíveis, ainda é comum encontrar eventos que cometem falhas graves. Alguns dos principais problemas são:
Intérpretes de Libras posicionados em locais sem visibilidade;
Profissionais sem preparo técnico para lidar com contextos culturais e artísticos;
Traduções mal feitas ou improvisadas;
Ausência de materiais em Libras antes do evento acontecer;
Equipes inteiras compostas por pessoas ouvintes decidindo sobre acessibilidade para pessoas surdas.
Esses erros afastam o público surdo e mostram que ainda falta compreensão sobre o que é, de fato, acessível.
A curadoria precisa ser feita com pessoas surdas
Não adianta apenas contratar intérpretes de Libras se a escolha deles é feita sem escuta e sem envolvimento da comunidade surda.
A curadoria da acessibilidade comunicacional deve ser feita com participação direta de pessoas surdas. Elas sabem avaliar se o profissional tem o perfil adequado, se a comunicação está fluindo bem e se a proposta respeita a cultura e a experiência visual do seu povo.
Além disso, a presença surda dentro do time de produção também contribui para uma comunicação mais real, representativa e sensível desde o início.
Por que isso importa?
Porque ninguém quer estar em um espaço onde não entende o que está acontecendo. Quando uma pessoa surda consegue acompanhar um show, um espetáculo ou uma roda de conversa em Libras, com qualidade e visibilidade, ela sente que aquele lugar também é dela.
A acessibilidade comunicacional cria experiências que acolhem, conectam e fortalecem. Ela transforma o evento em um espaço de pertencimento.
O que o Euforie-se acredita
A Euforie-se nasceu como um festival criado por pessoas surdas, colocando a identidade, a cultura e a língua visual no centro de tudo. A partir dessa vivência, entendemos que a acessibilidade comunicacional não pode ser pensada de forma superficial ou técnica. Ela precisa ser construída com diálogo, sensibilidade e representatividade.
Seguimos acreditando que acessibilidade é parte da criação, e não apenas da execução. É por isso que continuamos reforçando essa conversa, para que cada vez mais eventos sejam espaços onde a comunicação realmente inclua todo mundo.
Se você produz eventos, shows ou festivais e quer começar a entender como tornar seus espaços mais acessíveis para pessoas surdas, continue acompanhando o blog da Euforie-se. Em breve vamos compartilhar dicas, experiências e orientações para transformar a acessibilidade em prática real.
A mudança começa com quem está disposto a ouvir com os olhos e agir com respeito.
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